Cortar padrões de abandono. Ser a primeira a sair de casa e realizar algo incrível e novo. Não a primeira que saiu porque casou, mas aquela que saiu porque conquistou a própria independência, já paga as próprias contas. Livre para realizar muitas coisas, fracassar também, errar bastante, aprender algo totalmente irrelevante, não ser boa em tudo, ser medíocre e não precisar provar nada pra ninguém.
Escolher o desconhecido, radicalizar a liberdade. Abandono? Só se for do que me soava familiar e seguro (há uma dor insuportável nesse lugar, uma que não tem nome). Desejo o fim? Sim, desejo. E não sigo como quem porta mensagens, mas como carrega armas de corte, e a galope, saio limpando o que estiver pela frente, ervas daninhas, mato alto, muita sujeira. Vejo agora com nitidez o caminho que abri, mas só para o próximo passo. Assim posso apreciar a paisagem, agora, sim, não sou mais estrangeira do caminho a percorrer. Completamente outra mulher, confiante pela decisão - e, apesar dos traumas provocados nos caules de minha genealogia, ainda estou firme.
Ser quase. Não. Vir a ser, inteira. Apropriar-se da minha própria narrativa: aquela que saiu pelo mundo portando uma arma de corte e que cortou padrões de uma linhagem inteira de mulheres que não puderam fazer o mesmo. Desacostumar de uma ideia que se colou em mim, uma sombra que não me obedece. Arredia e que me pede: solta, vai ficar tudo bem. Essa casa que morei a vida inteira ficou pequena demais, ou corto minhas próprias pernas para caber (em qualquer ideal romântico do que eu deveria ser) ou levanto dessa cama e saio com uma única ambição: correr mundo após ter deixado tudo pra trás.